Jhonatan de Souza Silva, 24 anos, assassino confesso do
jornalista Décio Sá, diz que já perdeu a conta de quantas pessoas matou e que
costuma deixar uma marca em seus crimes: “Sempre três tiros na cabeça. É
garantia de morte”. Mas afirma que não sente prazer em matar e não se considera
um monstro.
Preso em São Luís, Jhonatan deu uma entrevista exclusiva
ao repórter Alex Barbosa, exibida no JMTV 1ª edição desta terça-feira (11).
Segundo a polícia, ele já assassinou mais de 40 pessoas e
é um dos maiores matadores do Norte e Nordeste do país. Jhonatan foi preso
quase dois meses depois do seu crime mais recente: o assassinato do jornalista
Décio Sá, no dia 23 de abril, em um bar na Avenida Litorânea. Ao ser detido
pelos policiais, o matador disse ter sido contratado por uma quadrilha de
agiotas para matar Décio e revelou ser um pistoleiro de aluguel.
Na entrevista, Jhonatan respondeu com aparente
tranquilidade a todas as perguntas. Ele chegou com a barba bem feita e,
preocupado com a aparência, pediu que a produção arrumasse a gola da camisa,
pois ele queria causar uma boa impressão.
Vida
Jhonatan teve uma infância comum. Foi criado na pequena Xinguara, cidade
com 50 mil habitantes no sudeste do Pará, quase na divisa com o Tocantins.
Sonhava ser jogador de futebol mas preferiu o caminho do crime. Jhonatan contou
que cometeu o primeiro assassinato aos 14 anos e que esse não foi por
encomenda.
A polícia diz que, a cada depoimento, Jhonatan deixa
escapar mais um de seus assassinatos. Nas contas dos investigadores já são
quase 50 vítimas, embora, até o momento, ele responda por 5 homicídios.
Jhonatan contou à polícia que foi contratado pela mesma quadrilha que
encomendou a morte de Fábio Brasil para matar Décio Sá, por causa das denúncias
contra os agiotas que o jornalista vinha fazendo em seu blog na internet. O
assassino diz que não sabia que se tratava de um jornalista.
Assassino frio
O secretário de Segurança Pública do Maranhão, Aluísio Mendes, falou que o
perfil do assassino impressiona. “De todos os homicidas que se dedicam à morte
por encomenda, o que mais nos surpreendeu foi o Jhonatan pela forma como ele
narra os crimes e pela total falta de arrependimento”.
O psiquiatra Ruy Palhano analisou a entrevista e afirmou
que Jhonatan não sente remorso do que fez. “Desde o começo da entrevista, ele
não mudou a expressão. Você não vê qualquer mudança no olhar. E essa coisa de
não mudar a fisionomia, não demonstra qualquer remorso, arrependimento por mais
horrendo, mais bárbaro, mais agressivo que tenha sido o crime”.
Confira a entrevista que Jhonatan de Souza Silva,
assassino confesso do jornalista Décio Sá, deu ao repórter Alex Barbosa:
Na sua definição,
quem é o Jhonatan de Souza Silva?
Eu me descreveria assim: uma pessoa não normal pro olho da sociedade,
entendeu? Até porque eles me têm assim, como um monstro, eu não me descreveria
assim, um monstro porque eu não sou uma pessoa assim, violenta, entendeu? Eu
não demonstrava pra ninguém o que eu faço. Pra mim eu sempre vivi assim o mais
simples possível, acima de qualquer suspeita. Eu acho que era o meu trabalho,entendeu?
O que eu fazia, e eu entendo assim como uma forma natural no mundo onde eu
vivia.
Como foi a sua
infância?
Minha infância, até os 12 anos de idade, eu morei no interior, na roça
mesmo, o meu pai tinha terra. Eu era o mais velho e ficava cuidando dos meu
irmãos. Mexia com gado, serviço de roça. Com 12 anos de idade nos mudamos todo
mundo pra rua e eu fui estudar. Era uma infância normal mesmo de criança. Eu
estudava, brincava com os colegas, jogava bola no colégio, era essa minha
infância.
Você era uma
criança tranquila?
Tranquila, nunca fui assim estourado, uma criança brigona, não. Já tive uma
consfusões de colégio mas nunca fui muito agressivo.
Qual era o seu
sonho?
Quando criança todo mundo quer ser jogador de futebol, né? isso é mais ou
menos o sonho de todo mundo. Mas, não foi por ai. O caminho foi outro.
A sua relação com
seus pais era tranquila?
Era sempre tranquila minha convivência com meus pais. Eu nunca fui
agressivo com a minha mãe, nem com meu pai. Sempre respeitei todos os dois. Eu
brigava com meu irmão, com a minha irmã, briga de menino, mas o meu pai e minha
mãe eu sempre respeitei. Nós somos três irmãos, eu e mais um casal.
Como foi a sua
adolescência? foi diferente da adolescência dos outros meninos da sua idade?
Foi diferente assim… eu nunca fui assim de ter muitos amigos, entendeu? Eu
tinha poucos amigos e minha adolescência não foi assim mais no meio dos
meninos. Eu já ficava mais num mundo já…com um pessoal já do crime.
Como você entrou
para o mundo do crime?
Foi conhecimento de pessoas em ruas, o meu pai já tinha separado da minha
mãe, eu morava com meu pai, e a gente morando com pai tem mais liberdade do que
junto com a mãe, né? O meu pai não era sempre presente, ele trabalhava e eu
sempre saia com meus amigos e eu já tinha amigos que se meteram com pistoleiro
e morreram em 2005.
Você já tinha
referências de gente que já trabalhava com pistolagem?
Eu já tinha conhecimento. Já conhecia.
Isso te
influenciou de alguma forma?
Eles assim não, entendeu? Mas eu tinha vontade, entendeu? Dentro de mim eu
tinha vontade de ser aquilo porque quem fazia aquilo na época tinha a roupa que
queria, tinha uma moto, um carro, as coisas que todo mundo quer ter. Aquilo
desperta na gente a vontade de ter também, de estar no meio.
Você tinha medo,
preocupação de como iria ser?
Medo assim… eu não tinha medo. Na época eu era muito novo, a pessoa quando
é muito novo, geralmente, não tem muito de quase nada, sempre quer estar em
aventura.
Como foi a
primeira vez que você puxou o gatilho?
A primeira vez foi uma discussão que teve e na mesma da hora eu acabei
cometendo o homicídio. Foi lá em Xinguara também, lá onde eu morava.
Quem era? era
alguém mais jovem?
Foi confusão, na época. Ele não era novo, não. Eu era novo na época.
Foram tiros?
Foi tiro de 38.
Quantos?
Cinco tiros.
O que você sentia
na hora?
Na hora eu sento aquela ansiedade, aquela agonia. Você não fica a mesma coisa,
entendeu? é agoniante. A gente só quer sair, se esconder e esperar a poeira
baixar.
E tinha gente em
volta? Foi premeditado?
Foi premeditado porque não tinha gente não. Tava um dia de domingo e não tinha
ninguém na rua, praticamente.
Tinha havido algum
desentendimento?
Já tinha havido. Foi programado porque ele tava bebendo, bebeu a noite toda num
bar lá, e de manhã cedo foi feito.
O que você sentiu
nessa noite?
Nessa noite eu fui pra outra cidade, fiquei lá até a noite, até escurecer.
Não deu nada, não saiu conversa, não saiu nada e eu voltei. Fui embora não,
fiquei por lá mesmo.
E ficaram sabendo
que foi você?
Ninguém ficou sabendo. Só que quem sabia nós éramos amigos, convivência. Em
casa meus pais não sabia, meu pai, nem minha mãe.
Em algum momento
você se arrependeu?
Não. Na época não.
Quando você matou
pela primeira vez, você sentiu que poderia matar outras vezes?
Senti. Já senti a partir do primeiro. O difícil é o primeiro, depois do
primeiro já se torna vontade.
Você sentia
vontade de fazer isso?
Vontade assim, de estar no meio, de fazer aquilo por dinheiro, pra obter
dinheiro.
Você dormiu bem
naquela noite?
Assim, foi de manhã né? eu tinha passado quase a noite acordado, dai passei o
dia acordado e fui dormir a noite que quando eu voltei eu tava cansado. Ai eu
dormi tranquilo.
Você chegou em
algum momento a pensar que ele tinha família? Isso passa pela cabeça de alguém
que mata?
Eu fiquei sabendo assim, que ele tava lá pra matar um amigo meu, entendeu?
Ele era matador também. Além da confusão ele tava lá pra matar um amigo meu.
Nesse caso você
fez sem peso na consciência?
Sem peso na consciência.
Você tem ideia de
quantas pessoas já matou?
Eu já perdi a conta, eu tenho uma base, mas eu não quero falar quantos são.
Mais de quarenta?
Eu não quero falar.
Quando você
decidiu virar um assassino de aluguel?
Depois que aconteceu isso, eu fiz isso junto com um pistoleiro e depois
disso apareceu uns convites. Ele que fazia a negociação. Eu pilotava a moto pra
ele matar. Pilotei várias vezes. Ai depois ele morreu, em 2005. Ele e um
parceiro dele. Ai de 2005 pra frente eu já comecei a matar.
Como é a
contratação do serviço?
É sempre alguém que vai e entrega a foto e me dá, mais ou menos, o
paradeiro da pessoa, o lugar aonde acha mais fácil. E ai a gente investiga e
sempre encontra.
Essa investigação
demora muito?
Depende muito. Se a pessoa se encontrar na cidade fica mais fácil. Mas já
teve muita gente de ir atrás e não achar, largar de mão.
O que você sente
quando você aperta o gatilho?
O que eu sinto?
Isso.
Não dá pra descrever o que se sente. No passar do tempo se torna uma coisa
comum, não afeta, não abala assim tanto mais como da primeira vez que se faz.
Teve alguém que já
pediu para você não fazer?
Não porque sempre é localizado. Chega, mata e vai embora. Não tem isso de
pegar, sequestrar e a pessoa chegar e implorar pela vida, não. É sempre muito
rápido.
Você tem uma marca
sua, uma assinatura?
É…tem assim..na cabeça, né?, o lugar de matar é na cabeça. Na cabeça é
garantia da morte.
Sempre mais de um?
Sempre três.
Teve alguma vez
que você não queria fazer, depois de ter pesquisado sobre a pessoa?
Humm… (pausa) não que eu tenha lembrança.
Jhonatan, você tem
medo de alguma coisa?
Tenho, de morrer, né? Todo mundo tem medo de morrer, quem não tem?
Por quê?
Assim, pela vida que eu vivo, ninguém nunca tem a certeza da vida. Eu vivo
uma vida que você sabe que qualquer hora pode morrer. Por isso que eu não tenho
muitos amigos, até. Eu não ando em qualquer lugar.
Você já pensou em
parar?
Já tinha pensado em parar. Inclusive quando eu saí em outubro, eu tinha
saído decidido a não matar mais ninguém. De viver minha vida diferente, de ter
outra vida. Mas, devido a alguma influências, eu não vou citar nome de ninguém
e eu jamais citaria. A gente acostumado a viver bem, com dinheiro, acabei me
envolvendo de novo e foi onde eu acabei com a minha vida de vez.
Você gosta de
matar?
Se eu gosto? Era o meu trabalho.
Você gostava do
seu trabalho?
Era uma profissão. Era o meu trabalho, foi o que eu me acostumei a fazer.
Então, era o que eu fazia.
Você acha que você
fazia bem?
Acho que sim.
Você sentia
prazer?
Prazer, não. Ninguém sente prazer em matar. Mas era o que eu fazia.
Você tem quantos
homicídios que a polícia sabe que foi você, que estão confirmados?
Cinco. Dois em Santa Inês, um em São Luís, um em Xinguara e um em Teresina.
Esse de Xinguara eu sou suspeito, estou sendo investigado pela polícia. Esse em
Santa Inês foram duas pessoas,confusão de bar. Duas pessoas foram presas
comigo, que não tinham envolvimento, mas que responderam processo, mas fui eu
que cometi o homicídio. A gente tava jogando sinuca e era apostado. Vinte
reais. Ai ele tava perdendo, ele e uma outra pessoa, e na última rodada ele
derrubou a bola e disse que o jogo tinha acabado. Ai eu pedi pra ele devolver o
meu dinheiro que ele não tinha ganho. Ele disse que não ia devolver. Eu
perguntei se ele não ia devolver o dinheiro e ele disse que não ia devolver,
não. Ai minha namorada me puxou. Eu fui no banheiro e fiquei lá uns dez
minutos. Peguei minha moto, fui em casa, busquei minha pistola e matei os dois.
Quantos tiros?
Foram seis tiros. Três em cada um.
Nesse caso você
foi preso?
Fui preso no mesmo dia. Eu sai de habeas corpus.
Ai você pensou em
parar?
Pensei. Porque eu já tinha sido preso duas vezes e tinha gastado muito
dinheiro. Tudo com advogado.
Você ganhou muito
dinheiro?
Nunca ganhei, não.
Mas os valores não
são altos?
Alto assim nunca teve, não. Alto mesmo foram só esses dois aí e não foram
pagos. Por isso que deu no que deu.
Tem alguma tabela?
qual é o preço médio de um crime desses?
Depende da pessoa, do que ela é.
Uma pessoa comum
seria quanto?
Comum eu não digo assim. Ninguém morre de graça. Eu não vou matar uma
pessoa só por matar. Tem que ser uma pessoa que já deve ter feito alguma coisa.
Então ela tem que ta morrendo, pagando pelo que ela fez.
Tem motivo que
você recusa?
Tem. Um pai de família, por exemplo, eu já recusei. No mundo que a gente
vive, no mundo do crime, tem suas leis.
Caso Décio Sá
Como foi a
contratação?
Diz que tinha ele pra matar. Que ele era um fuxiqueiro, que metia o nariz
em todo lugar e que tava prejudicando muita gente, e ele teria que morrer. Ele
disse que ele era um blogueiro, não disse que ele era um jornalista. Falou o
lugar onde eu poderia encontrar ele. O lugar era o João Paulo, era uma rádio
comunitária que ele frequentava. Só que não era ele. Já no terceiro dia, ele
disse que eu poderia achar ele na Mirante, só que ele não disse que ele era
jornalista, ele disse que ele frequentava a Mirante. Eu fiquei num quiosque na
praia esperando dar nove horas, quando deu o horário não demorou nada ele saiu.
Aí eu segui ele.
Como foi a
execução?
Eu entrei, ele tava sentado falando no telefone, aí eu arranquei a pistola
e ele tentou correr. Aí eu atirei nele. Foram cinco tiros, três na cabeça.
Por que você não
escondeu o rosto?
Eu não escondi meu rosto porque eu achava que não ia dar em nada. Eu não
sabia que ele era um jornalista, eu achava que ia ser igual ao do Fábio Brasil.
Aí eu fugi, subi na garupa da moto, vi uma viatura e pedi pra ele encostar.
Subi o morro, troquei de camisa, enterrei a pistola.
Por que você havia
dito que jogou a pistola no mar?
Eu disse porque ela veio de um capitão da polícia, que foi envolvido no
crime. Ela foi dada pro Bolinha e eu comprei ela dele. Eu tinha esperança que
através dessa pistola eles poderiam pagar o meu dinheiro. Se não me dessem meu
dinheiro eu ia entregar a pistola. Ai depois eu perdi as esperanças.
O nome de alguma
pessoas acabaram sendo envolvidos nesse caso, como o de um deputado, como você
ficou sabendo da existência dessas pessoas?
Foi o Bolinha que comentou. No dia da contratação do Fábio Brasil ele já
tinha mencionado o nome do Gláucio, do Miranda, e do capitão. Depois, quando eu
fui pra fazer o Décio ele chegou a citar o nome do deputado, Raimundo Cutrim.
Eu não tenho a certeza, entendeu? Eu ouvi ele dizer.
Em que contexto o
nome do deputado foi citado?
A gente tava bebendo e ele é daqueles assim, de querer se “amostrar”. Ele
dizia “ah, o nosso grupo é forte”, que ele podia fazer e acontecer que ficava
por isso mesmo. Devido disso, ele chegou a citar o nome dele, dizendo que ele
era o principal mandante.
Após cometer o
crime, como você foi pra casa?
Eu andei uma longa distância e no meio do caminho eu fui pra casa. Ai eu
cheguei e fiquei tranquilo em casa. Quando eu cheguei em casa eu tomei banho e
fui dormir. Ai já tinha notícia. Aí que eu vi o tamanho da encrenca. Fiquei
ainda uns três dias aqui e depois eu fui embora.
Por que você
voltou?
Por causa do dinheiro. Eu vim cobrar. Se tivesse sido pago o dinheiro
talvez nada disso tivesse acontecido.
E se ele não te
pagasse?
Se ele não me pagasse em dinheiro, ele ia pagar com a vida. Essa vida é um
compromisso, ele tinha que honrar o compromisso.
Você se
arrependeu?
Eu me arrependi pelo preço que foi. Foi combinado um preço e pelos cem mil
ele foi barato. Pelos cem mil ninguém matava ele e por não ter recebido. Se
eles tivessem dito, realmente, quem ele era o preço seria outro e o dinheiro
tinha que sair.
Você tem filhos?
Tenho um casal de filhos. Uma menina de dois anos e um menino mais novo. Eu
não quero que o meu filho siga essa minha vida. Nenhum pai quer isso pra um
filho. Eu quero que o meu filho estude.
Entenda o caso
Jhonatan Sousa Silva, de 24 anos, confessou ter assassinado o jornalista
Décio Sá, com cinco tiros, em um bar da Avenida Litorânea, orla de São Luís, no
dia 23 de abril. O pistoleiro confessou à polícia que matou o jornalista à
mando de um consórcio de agiotagem, formado por seis pessoas, presas no dia 13
de junho.
Os empresários Gláucio Alencar Pontes Carvalho (34), seu
pai, José de Alencar Miranda Carvalho (72), José Raimundo Sales Charles Jr.
(38), Fábio Aurélio do Lago e Silva (32), Airton Martins Monroe (24) e o
subcomandante da Polícia Militar do Maranhão, Fábio Aurélio Saraiva (conhecido
como Fábio Capita), foram apontados por Jonathan, como envolvidos na morte do
jornalista Décio Sá.
Jhonatan realtou, inclusive, que teriam encomendado o
crime por R$ 100 mil, mas o valor não foi integralmente, o que motivou seu
retorno para São Luís, no intuito de cobrar a dívida. Todos os suspeitos
continuam presos e o homem, identificado como Diego, que pilotou a moto para
Jhonatan no dia do crime, continua foragido.
FONTE: IMIRANTE
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