O senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) teve nesta
quinta-feira (11) o mandato cassado por 56 votos a favor, 19 contrários e 5
abstenções.
Ele se tornou o segundo parlamentar, em 188 anos de
história, a ser excluído da Casa pelos próprios colegas.
Um dos principais líderes da chamada “bancada ética” do
Senado, Demóstenes foi flagrado em escutas pela Polícia Federal em situações
que sugerem o uso do cargo em benefício do suposto esquema criminoso comandado
por Carlinhos Cachoeira.
Além disso, é acusado de ter mentido em plenário quando
disse que somente mantinha relação de amizade com o empresário.
Em sua última tentativa de se manter no cargo, Demóstenes
apelou aos senadores: “Quem cassa senador é senador e não a imprensa. Por
favor, me deem oportunidade de provar que sou inocente. Não acabem com a minha
vida.”
Com a renúncia, o empresário Wilder Pedro de Morais deve
assumir o cargo. Ele é o atual secretário de Infraestrutura de Goiás e
ex-marido de Andressa Mendonça, atual mulher de Cachoeira. Morais é citado pelo
empresário em conversas telefônicas grampeadas pela Polícia Federal como alguém
próximo.
Oitenta senadores acompanharam a sessão, um quorum raro
nas sessões do Senado. Apenas o senador Clovis Fecury (DEM-MA) não compareceu.
Ele está de licença para tratar de assuntos pessoais.
Até hoje o Senado só havia cassado o mandato de Luiz
Estevão (DF), em 2000, no escândalo de desvio de recursos das obras do Tribunal
Regional do Trabalho de São Paulo.
O ex-líder do DEM ficará inelegível até 2027 (oito após o
término da legislatura para o qual foi eleito), quando terá 66 anos.
A votação que levou a perda do mandato de Demóstenes foi
secreta e os senadores foram proibidos de revelar o voto.
DISCURSOS
Na sessão que definiu a cassação de Demóstenes, senadores
afirmaram que a decisão representa a moralidade da instituição.
Mesmo afirmando que vivem um “momento triste” por julgar
um colega, os parlamentares afirmaram que a conduta ética de um senador deve
nortear o seu mandato.
“Hoje é um dia de moralidade, sim. Mas o país sabe que
aqui não tem moralidade. O Brasil inteiro sabe que não existe Senado, que não
existe Câmara neste país. E deve estar dizendo: me engana, que eu gosto”, disse
o senador Mário Couto (PSDB-PA).
O tucano fez os ataques mais duros a Demóstenes ao
afirmar que a voz nas gravações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, é
do parlamentar. E que sua conduta frustrou os colegas senadores.
O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) disse que é muito
difícil julgar um senador que recebeu dois milhões de votos e chegou a ser
apontado como “um dos mais influentes” do país que “gozava de elevada reputação
e credibilidade”.
Mas cobrou que a Casa dê respostas às acusações. “Não
basta ser inteligente, é preciso ter predisposição de caráter.”
Com elogios à conduta de Demóstenes no passado, o senador
Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) pediu que a Casa tenha como base o julgamento
do Conselho de Ética, que pediu a cassação de Demóstenes – do qual é
presidente.
“Homem da estirpe intelectual, um dos mais competentes
que já teve esta Casa, o senador Demóstenes. No entanto, as decisões que
tomamos nos fatos têm que guardar harmonia com o que consideramos justos ou
moralmente corretos.”
DEFESA
Em sua vez de falar aos senadores, Demóstenes se comparou
a uma mulher que é acusada de ser “vagabunda”.
Segundo ele, essa mulher não tem como se defender depois
de uma acusação dessas, quando ela já está jogada no chão. Afirmou ainda que
foi “perseguido como um cão sarnento” e investigado como nenhum outro político
no país.
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay,
antecedeu Demóstenes na tribuna. “É suficiente para cassar um senador o fato de
ter usado um rádio nextel?”, questionou.
O rádio a que se referiu foi dado a Demóstenes pelo empresário
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e era usado pelos membros de uma
quadrilha que, segundo a PF, corrompia agentes públicos.
FOLHA DE SÃO PAULO
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